quarta-feira, 17 de maio de 2017

Mitos e verdades sobre as vacinas


A vacina é, reconhecidamente, uma das maiores conquistas da Humanidade. Desde que se tornou uma prática comum na sociedade, no século 18 (sendo que existem registros de métodos semelhantes praticamos na Ásia há mil anos), ela ajudou a salvar milhões de vidas apostando no uso da própria doença (uma porção enfraquecida do agente agressor) para estimular a prevenção. Doenças foram erradicadas à base de vacinas. Mas o retorno de casos de sarampo e outros males sinaliza que o movimento “antivacinação” pode estar tomando força. Uma força perigosíssima.
A discussão ganhou impulso no final de maio de 2015 na Espanha, quando uma notícia surpreendeu a população e a comunidade médica: um caso de difteria, algo erradicado no país desde 1987, foi observado em um hospital próximo à Barcelona. O menino de seis anos diagnosticado com a doença precisou que o centro médico da cidade espanhola esperasse a chegada de medicamentos vindos da Rússia (já que o país nem mesmo tinha remédios estocados, dada a inexistência de casos há quase três décadas).

Depois de um mês internado, no final de junho do ano passado, a criança faleceu. Seis outros colegas de classe do menino receberam acompanhamento, mas, como tinham sido vacinados, ficaram fora de perigo. A comunidade local entrou em alvoroço (ou pânico mesmo) discutindo o acontecido – e, especialmente, a opção dos pais da criança de não vaciná-la. Médicos espanhóis chegaram a dizer que a escolha pela não-vacinação, nesse e em outros casos, era como “fazer roleta-russa com a saúde infantil”.

“De fato, a sociedade deve discutir a responsabilidade dos pais que fazem essa escolha. Porque eles não estão decidindo apenas pelos filhos, mas sim por milhares de pessoas”, diz Esper Kallas, infectologista e imunologista do Hospital das Clínicas em São Paulo e da Faculdade de Medicina da USP.

O receio com relação às vacinas, no entanto, não é algo novo. Ele surgiu no mesmo tempo que a vacinação em si – e já na primeira “variolação”, o procedimento de vacinar indivíduos saudáveis contra a varíola, ocorrido há cerca de 230 anos nos Estados Unidos, desencadeou uma onda de críticas e revolta.

Mais recentemente, um movimento anti-vacinação, em 1998, teve início quando o britânico Andrew Wakefield publicou um artigo na revista médica “The Lancet” relacionando a vacina combinada contra sarampo, rubéola e caxumba (a chamada Tríplice Viral), com o desenvolvimento de autismo. Na realidade, o Dr. Wakefield havia falsificado e inventado dados de pesquisa (ele teve sua licença cassada mais tarde). Apesar da punição ao médico que gerou a polêmica e a retirada do artigo da revista, nas redes sociais, ainda hoje pessoas disseminam essa “notícia”.
“O que se sabe comprovadamente sobre as vacinas há décadas é que elas previnem, sim, contra doenças graves que poderiam trazer alto risco de morte ou sequelas graves”, explica Kallas.
São, normalmente, doenças contagiosas que se disseminam rapidamente pela população – daí a escolha pela não-vacinação afetar não apenas uma família, mas a sociedade inteira.

No estado da Califórnia (EUA), foi aprovada recentemente uma medida que impede pais de vetar a vacinação de crianças em idade escolar (por motivos como religião ou escolhas pessoais).

A SB-277 foi criada depois que um surto de sarampo este ano afetou cerca de 160 pessoas e, por rastreamento, descobriu-se ter início em um indivíduo que contaminou a todos na Disneylândia local. Apenas pessoas com alergia à vacina podem ficar fora da imunização.

O sarampo, apesar de visto como uma doença corriqueira pelas pessoas que acreditam na anti-vacinação, pode se agravar e causar, por exemplo, pneumonia e cegueira. Ou até mesmo morte, especialmente em crianças.

“Adeptos da não-vacinação dizem que contrair essas doenças não é um grande problema e até ‘faria bem’. Certamente mudariam de ideia se lessem mais históricos a respeito e notassem a quantidade de pessoas que ficam inférteis ou surdas por desenvolver caxumba, por exemplo”, lembra Kallas.

A verdade é que muitos têm dúvidas sobre as vacinas por temer as reações que algumas delas podem provocar – mas a grande maioria é leve e não vai além de um desconforto momentâneo, com dor ou coceira local e febre baixa. A única atenção especial é mesmo para indivíduos com histórico de alergias como a ovo de galinha (pois a maior parte dos laboratórios utiliza ovos fecundados no processo de produção da vacina contra a gripe).
“Até uma vacina ser incluída no calendário oficial de imunização, ela passa por muitos anos de pesquisas, às vezes décadas. Informações desencontradas, sem base científica ou a divulgação de notícias mal apuradas na mídia sobre reações a vacinas, não ajudam em nada. Apenas pioram a aceitação popular a um procedimento que é, sim, muito seguro e determinante para a saúde geral”, finaliza.
Via: Prof. Dr. Max Grinberg, Núcleo de Bioética do Instituto do Coração do HCFMUSP, http://sbim.org.br/ (Sociedade Brasileira de Imunizações)

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