domingo, 17 de maio de 2015

Reflexões sobre gravidez na adolescência


[*] Elienay Keren

A adolescência é uma fase em que há um mix de sensações, sentimentos, emoções e infinitas descobertas e, na maioria das vezes, é bastante conturbada pelas divergências de ideias, definição da personalidade, identidade e desenvolvimento. Não se pode definir ao certo, o início e término desta fase, mas a Organização Mundial de Saúde (OMS), define a adolescência como um período que se inicia aos 10 anos e vai até aos 19 anos completos. Para a OMS a adolescência é dividida em três fases: Pré adolescência (dos 10 aos 14 anos); adolescência (dos 15 aos 19 anos completos) e juventude (dos 15 aos 24 anos).

Essa fase também é bastante marcada pelo que os pais e responsáveis chamam de "aborrecência", desobediência e/ou rebeldia, inúmeras ‘’amizades perfeitas’’, conversas em redes sociais, mudança no estilo de roupa, cabelo e pelo namoro. Nela também está a puberdade, caracterizada pelas transformações físicas e biológicas no corpo do indivíduo, finalizando na transformação sexual. Daqui em diante, as intenções e desejos deste ser começam a tomar um caminho diferente; na cabeça onde o pensamento era a programação de desenhos infantis, com que brinquedo iria brincar, que desenhos colorir; hoje passa a ser a programação da novela/seriado, quando vai ser a próxima sessão de cinema e que roupa irá vestir, ou seja, os interesses mudam e há uma grande preocupação com seu status frente a outros da mesma idade. Além disso, observamos um relativo abandono do seu "eu individual" para assumir um perfil do grupo em que faz parte. É na verdade uma busca por aceitação/popularidade que geralmente transforma radicalmente o perfil dos meninos e meninas.

Ao contrário do que algumas pessoas pensam, adolescência e puberdade não são a mesma coisa. A puberdade está apenas relacionada com as modificações físicas, ou seja, pelas alterações hormonais, surgimento das características sexuais, etc. Nesta fase, o corpo está voltado para a produção dos hormônios sexuais que são diferentes em cada sexo. Os meninos produzem, além de outros, a testosterona (principal hormônio do organismo masculino que influencia o comportamento, desempenho sexual e também algumas características físicas). Já as meninas produzem o estrógeno (estão relacionados à preparação do útero para a reprodução e a determinação dos caracteres sexuais, como o crescimento das mamas, alargamento do quadril e deposição de gordura em determinados locais do corpo).

Na puberdade o crescimento acelera, os órgãos sexuais se definem e a fertilidade se inicia. Trata-se de um processo difícil tanto para o adolescente, que vai experimentar essas transformações, como para os que o rodeiam. Alterações de humor e às crises existenciais vividas por eles carecem de paciência, atenção e muita orientação. Apesar de tudo isso, essas transformações são necessárias para a espécie humana, pois todo esse "alvoroço" tem o objetivo de permitir ao homem iniciar o processo de reprodução.

A puberdade nas meninas é caracterizada pelo desenvolvimento dos seios e da genitália; o aparecimento de pêlos na genitália e axilas; definição das formas do corpo desencadeada por meio do acúmulo de gorduras em algumas partes (quadris, coxas); surgimento de acnes; e pelo aparecimento da menarca (a primeira menstruação).

Já nos meninos, a puberdade se caracteriza a partir do engrossamento da voz; nascimento de pelos em várias partes do corpo (peito, pernas, axilas, genitália); surgimento da barba; desenvolvimento muscular; aparecimento de acne; desenvolvimento da genitália; e pela primeira ejaculação, que pode ocorrer enquanto o garoto dorme ou ainda, durante uma masturbação.

Tanto nas meninas quanto nos meninos, a puberdade vem acompanhada de novas sensações e desejos sexuais gerados pelo aumento da produção hormonal fazendo com que estes adolescentes passem a sentir mais intensamente, excitação sexual. O desejo sexual é exagerado na adolescência devido a intensa ação hormonal e curiosidade. O grande controlador desses desejos é o cérebro. Lá existem regiões específicas chamadas ‘’centros sexuais cerebrais’’, onde ocorre à liberação de vários hormônios. Portanto, o desejo sexual pode ser definido como um impulso produzido pela ativação de um sistema presente na rede mais complexa que existe dentro de nós, o cérebro. A descoberta do sexo na adolescência pode ser a causa do início precoce da vida sexual. Sendo assim, se não houver orientação, esse início da vida sexual pode acarretar em problemas que vão de uma gravidez inesperada até o contágio de doenças sexualmente transmissíveis.

Inúmeros fatores podem desencadear numa gravidez precoce, mas é importante salientar alguns, como por exemplo, a base e instrução familiar. Vivemos numa sociedade em que a essência e estrutura familiar têm se perdido seja por influência da mídia, por novas ideologias, pós-modernidade e interações de culturas diferentes à nossa (globalização). O que se pode observar diante deste fator é que algumas crianças e adolescentes tem desenvolvido a ideia de que se pode tudo, ou seja, existe uma grande dificuldade na imposição de limites.

Algumas famílias se esforçam para debater a questão da sexualidade em casa e, em outros casos, o tema é abordado com propriedade nas escolas através de palestras, campanhas, estudos e discussões. Mas, mesmo assim, ainda é possível encontrar modelos de famílias em que a sexualidade ainda é um tabu. Assim, meninos e meninas, acabam debatendo sexualidade, na maioria dos casos, com os próprios amigos/namorados ou até pelas redes sociais em que a banalização do sexo é uma realidade. Este é considerado o primeiro passo, para uma gravidez fora de hora.  

É por esses e outros motivos que o mundo tem assistido uma crescente onda de mães muito jovens e, muitas dessas, com Infecções Sexuais Transmissíveis (IST’s) - doenças contagiosas em que a forma mais frequente de transmissão é através das relações sexuais. As IST’s passam das pessoas infetadas para os seus parceiros/as durante o ato e são provocadas por microrganismos - bactérias, vírus e parasitas. Soma-se isso a uma gravidez fora de hora e teremos prejuízos irreversíveis no que diz respeito a vida acadêmica e profissional.

O início da atividade sexual precoce está muito relacionado com o contexto familiar, na maioria das vezes, adolescentes que iniciam a vida sexual precocemente e engravidam, tem o histórico parecido com o dos pais. A desconstrução da ideia conservadora e recatada, a moda do ‘’ficar’’, o não querer estar sozinho, a não aderência dos métodos contraceptivos - embora distribuídos gratuitamente nas Unidades Básicas de Saúde Pública – talvez pela falta de informação ou por tentar esconder a atividade sexual dos pais, tem aumentado a prática sexual precoce/desprotegida fortalecendo as estatísticas de adolescentes grávidas.

A gravidez é uma das fases mais difíceis e conturbadas que uma jovem pode enfrentar, pois representa uma sobrecarga física e emocional, ocasionando na maioria das vezes, no afastamento dos amigos e famílias.

No Brasil a gravidez na adolescência tem se tornado uma problemática de saúde pública. Com a falta de instrução sobre o uso dos métodos contraceptivos e despreparo físico/emocional dessas mães, o índice de aborto também tem sido alarmantes, uma vez que ao receber a notícia da gravidez, algumas jovens tentam, de todas as formas, interromper o processo de gestação.

Quando a gravidez e a adolescência andam juntas, podem ser sinônimos de inúmeros distúrbios, sejam psicológicos ou físicos. Durante a gravidez, a mulher vai desenvolver dentro de si um embrião, que posteriormente evoluirá para um feto e finalmente a forma em que chamamos de recém-nascido. Normalmente, este processo acarretará em algumas transformações tanto no nível psicológico quanto no fisiológico; naturalmente o útero vai crescer e esticar, os seios irão ter um aumento progressivo e prolongado seguido de dores (nas costas, região abdominal e seios). Tais transformações necessitam de um preparo, que com certeza, adolescentes não possuem.

Uma gravidez para meninas nas fases da pré-adolescência e adolescência requer atenção médica especial. Visto que algumas dessas não têm capacidade para suportar o desenvolvimento fetal pelo baixo peso, não desenvolvimento total da estrutura que comporta este novo ser (o útero), outras ainda, têm doenças que podem interferir na formação e desenvolvimento da criança. Uma adolescente que por não se prevenir no ato sexual adquire alguma IST (Infecção Sexual Transmissível), dependendo do tipo e desenvolvimento da infecção trará danos irreparáveis tanta para ela quanto para o feto. Outro fator de risco para a gravidez precoce é a falta de preparo fisiológico, sendo assim, se faz necessário o uso de medicamentos para suprir as necessidades do embrião em se desenvolver que no momento, a mãe não tem.

Ainda falando sobre medicamentos, em determinadas semanas da gestação, a mães precisam fazer uso de alguns para garantir o desenvolvimento correto do embrião. Durante a gravidez, mãe e feto se unem numa unidade funcional inseparável. O bem-estar materno é pré-requisito para o bom funcionamento e desenvolvimento de ambos. Consequentemente, é importante, ao tratar a mãe, considerar a máxima proteção ao feto. Além disso, é muito importante que a mãe faça o pré-natal de forma correta e regular para se estabelecer um vínculo de segurança com seu médico, esclarecer qualquer tipo de dúvidas, realizar os exames necessários que visam prevenir doenças e riscos para ambos e conhecer com propriedade o que está acontecendo com seu corpo e com seu bebê.

Entende-se que é importante passar por todas as fases naturais que a vida oferece, como a infância, a adolescência, a fase jovem, adulta e a velhice, períodos onde se desenvolvem estruturas que se auxiliam uma após a outra. Então, como se pode explicar jovens com tão pouca idade se tornando “mães” existindo pouco preparo ou estrutura ? O contexto da problemática de fato está no que foi tratado anteriormente (base e estrutura familiar destorcidas, falta de instrução, abertura para a prática sexual precoce, desconstrução de valores). É importante chamar atenção para várias adolescentes que engravidaram, e alegaram que mesmo tendo conhecimento sobre o tema, não sabiam explicar o fato de não terem se prevenido, deixando o momento da relação aos cuidados da sorte.

Mesmo havendo uma resistência para a conscientização dos jovens e adolescentes quanto às questões emocionais, sociais e financeiras que circundam uma gravidez precoce, talvez seja necessário aumentar a frequência de informações sobre a temática dentro das escolas e famílias. Este assunto, deve ser incorporado em nossa cultura, que apesar de “moderna”, ainda é cheia de tabus e preconceitos.



 A busca por ajuda, por mais constrangedor que possa parecer, também é fundamental na compreensão dos processos de transformação que estão a acontecer com o corpo e mente. Expor dúvidas e desabafar também são importantes, ajudando a aliviar a tensão que esta fase proporciona. A negação também não mudará o quadro e por isso, a jovem mãe terá que encarar a realidade com paciência, cuidados redobrados e informação. Portanto, para evitar situações conturbadas o melhor mesmo é o caminho da prevenção. 








Referências
http://www.apf.pt/

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/l8069.htm

http://www.who.int/eportuguese/publications/pt/

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[*] Elienay Keren é estudante do sétimo período de enfermagem (noite).

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