sexta-feira, 22 de maio de 2015

Diretor-geral da Maternidade Nascer Cidadão de Goiânia Dr. Sebastião Moreira defende que enfermeiros com curso de capacitação podem, sim, substituir pediatras em partos de baixo risco



Segundo Dr. Sebastião Moreira “Qualquer um que não seja esquizofrênico pode realizar um parto” O diretor-geral da Maternidade Nascer Cidadão de Goiânia defendeu a retirada da obrigatoriedade de pediatras das salas de parto. Em entrevista ao Jornal Opção Online, o obstetra Sebastião Moreira afirmou que qualquer pessoas que não seja esquizofrênica pode, sim, realizar um parto, “basta ser capacitada”.
Para o médico da Rede Municipal de Saúde, quando o parto é de baixo risco — aquele que, em tese, não apresenta indícios de complicações para a mãe e o bebê –, este pode ser assistido por um enfermeiro obstetra, especializado em neonatologia, e não obrigatoriamente por um médico pediatra — como determina a Portaria nº 31, de 15 de fevereiro de 1993. “Estamos formando dez residentes aqui na Nascer Cidadão e outros quatro no Hospital Materno Infantil. Quando eu tiver enfermeiros capacitados, vou pedir a dispensa do pediatra”, garante ele.
A polêmica sobre a presença do pediatra durante o parto surgiu após uma consulta pública do Ministério da Saúde, aberta no final de abril e com prazo final para a próxima semana, que discute tal obrigatoriedade, também em partos cesáreos. A intenção do MS é possibilitar a substituição do especialista por outro médico ou mesmo enfermeiro.
Mesmo sendo duramente criticada pela classe médica, inclusive pelo Conselho Federal de Medicina, a medida é considerada um avanço pelo diretor da Nascer Cidadão. “Nos Países desenvolvidos, como a Holanda, isso é normal. Mas, aqui, nós temos cultura de terceiro mundo e não queremos avançar por causa de corporativismo”, critica ele.
Sebastião Moreira conta que já foi denunciado por colegas de trabalho por dispensar pediatras e fazer o parto sozinho: “O problema é que os médicos acham que são os donos do parto, e não são. O parto é da mulher e é ela quem deve decidir como quer ter seu filho”.
Ao elencar os motivos do porquê de tamanha aversão da classe médica aos partos realizados por enfermeiros, ele sugere que o “corporativismo”, “a questão comercial” e “o poder do médico” são os principais.
“Na minha experiência, um parto de baixo risco assistido por uma enfermeira capacitada é perfeitamente normal. Claro que teríamos uma equipe de plantão para caso algo aconteça, mas estes pediatras, em vez de estarem na sala de parto, poderiam estar em consultórios atendendo e suprindo a falta desses profissionais, que é uma realidade”, arrematou o diretor.
Retrocesso
Para o Dr. Mauricio Machado presidente da Sociedade Goiana de Ginecologia e Obstetrícia, Maurício Machado discorda do posicionamento do colega de profissão. Para ele, a retirada do pediatra das salas de parto é um “retrocesso enorme”. “Retirar o profissional que é mais capacitado para dar assistência neonatal no que chamamos de minuto de ouro [primeiro minuto de vida do recém-nascido] pode ter consequências graves para o resto da vida”, lamenta ele.
De fato, dados mostram que um em cada dez recém-nascidos — em partos de baixo risco — precisa de ajuda rápida e eficaz nos primeiros 60 segundos de vida, por um profissional qualificado. A Sociedade Brasileira de Pediatria estima que, a cada ano no Brasil, cerca de 300 mil recém-nascidos necessitam ser auxiliados para que o pulmão se encha de ar e para que o coração e toda a circulação sanguínea se adaptem a funcionar normalmente sem a placenta.
Maurício critica a intenção do Governo Federal de retirar o pediatra da sala de parto e também a defesa dos partos domiciliares, pois o Brasil não possui estrutura adequada para tanto. “Mesmo em Países desenvolvidos, que têm além de recurso, experiência, a morbidade e a mortalidade em partos domiciliares são aumentadas em duas vezes. Imagina no nosso país que não tem estrutura nem para partos hospitalares”, justifica.
O presidente afirma que o grande problema em se retirar o neonatologista advém do fato de que, quando há uma emergência, a demora para se acionar o apoio pode ser crucial para o recém-nascido. “Quando o médico chegar, a situação já estará grave”, alerta e completa: “Essa modalidade vai pegar na rede pública, porque no serviço privado, ninguém vai querer. É uma forma de baratear o parto, de forma irresponsável… Se retirar o pediatra, será o passo final para partos sem equipe médica”.
Presidente eleito do Conselho Regional de Medicina de Goiás (Cremego), o também obstetra Aldair Novato lamenta a discussão e considera “preocupante” a retirada do pediatra. De acordo com ele, há uma disputa entre as equipes médicas e de enfermagem. “Estão querendo transferir para pessoas não-médicas um ato que é médico. Enfermeiros estão fazendo residência por dois anos e se achando competentes para fazer partos, inclusive domiciliar, o que é uma irresponsabilidade”, alerta ele.
Aldair Novato reconhece que em Países desenvolvidos é comum a retirada dos médicos pediatras, mas só porque “existem pessoas extremamente capacitadas para fazer este acompanhamento de partos de baixa complexidade”. No entanto, há sempre a supervisão médica, para a eventualidade de um acontecimento agudo.
Já no Brasil, são poucos os lugares que possuem equipes com tamanho preparo: “Pode ser que no Rio de Janeiro, em São Paulo e Belo Horizonte existam essas equipes, mas em Goiânia, com certeza, não”. “A atuação entre a equipe médica e a de enfermagem deve ser conjunta, mas não é isso que tem acontecido”, arremata o presidente.
Posicionamento 
A Secretaria Municipal de Saúde encaminhou uma nota-resposta ao Jornal Opção Online informando que o posicionamento do diretor-geral da Nascer Cidadão não reflete à opinião da SMS. Veja:
“Com relação à matéria do Jornal Opção Online, com título ‘Qualquer um que não seja esquizofrênico pode realizar um parto’, afirma diretor da Nascer Cidadão, a Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia (SMS) esclarece que a afirmação não é a opinião da Secretaria e sim opinião pessoal do diretor. A SMS segue os protocolos técnicos  do Ministério da Saúde e da Sociedade Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia”.

Fonte: Jornal Opção
Site:http://www.jornalopcao.com.br
Data:21/05/2015


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