Depois de passar por uma cesariana indesejada, Soraya optou pelo parto humanizado na segunda gestação.
(Arquivo Pessoal/Soraya Sandoval)
Soraya Sandoval é mãe de
três meninas. A primeira, hoje com cinco anos, nasceu por meio de uma cesárea
desnecessária e não desejada. As duas caçulas – gêmeas – vieram ao mundo após
um intenso processo de busca por informações sobre o parto humanizado e
pelas mãos de uma equipe preparada e muito acolhedora. Conheça essa
história!
“Desde a minha primeira
gestação eu queria ter um parto normal, mas eu pensava que tudo aconteceria
naturalmente, que todos fossem apoiar essa decisão e que no momento em que eu
entrasse em trabalho de parto a equipe do hospital esperaria o tempo que fosse
necessário para minha bebê nascer. Mas infelizmente não foi assim que
aconteceu!
Minha bolsa rompeu,
começaram as contrações e fomos para o hospital. Chegando lá, imediatamente me
examinaram e já me informaram que eu estava com 3 centímetros de dilatação.
Gestante de primeira viagem, dando entrada na maternidade com pouca dilatação,
sem acompanhamento de uma doula, sem informação e muita dor! Eu era um alvo
fácil para a realização de uma cesárea desnecessária.
Assim que me acomodei no
quarto onde eu passaria as próximas torturantes horas, já notei a frieza e
falta de empatia da equipe que me recebeu. Esperava outro tipo de tratamento,
afinal eu viveria o evento mais importante da minha vida: o nascimento da minha
primeira filha. Mas para eles isso não importa. Eles fazem isso o tempo todo.
Eu só era mais uma. E eles tinham pressa!
Naquela maternidade não era
permitida a entrada de mais de um acompanhante com a gestante. Eu queria muito
que uma amiga fisioterapeuta ficasse comigo pelo menos durante as primeiras
horas para me dar suporte físico e emocional. Eu não fazia ideia da importância
da presença do meu marido naquele momento comigo, então escolhi que ela
entrasse comigo primeiro.
Depois de umas 5 horas que
eu já estava internada, o obstetra chegou para me examinar e me deu a triste
notícia de que eu tinha dilatado muito pouco. Já bem desanimada e sem
esperança, sem comer e tomar água, o médico aproveitou minha
vulnerabilidade e me ofereceu uma cesárea. Sem titubear, eu aceitei. Naquele
momento, eu pensava ter sido a melhor decisão a tomar. E talvez de fato tenha
sido! Lá no fundo eu sabia que havia uma grande chance do meu parto terminar
com muito sofrimento e trauma.
Fui para o centro cirúrgico
e em 20 minutos eu já ouvia o choro da minha filha. Colocaram-na próximo ao meu
rosto, dei um beijinho nela e logo a levaram para que ela fosse examinada e
trocada. Minha vontade era pegá-la no colo, abraçá-la. Mas não podia. Enquanto
me costuravam, eu ouvia seu choro e não podia nem olhar para trás para ver o
que estava acontecendo. Depois que o bebê nasce, o tratamento da equipe do
hospital com a mulher que já se tornou mãe não é muito diferente de quando ela
chegou ainda grávida. As enfermeiras não davam a real importância para a minha
dificuldade com a amamentação e de novo eu me sentia fraca e incapaz. Mas agora
eu era responsável pela vida e nutrição de um ser: minha filha.
Quando eu voltei para a
casa, inconformada com o fato de não estar conseguindo amamentar do jeito que
eu gostaria, comecei uma busca incessante por informações a respeito de
amamentação. Até que eu caí no assunto ‘parto humanizado’ e descobri que eu
tinha passado por uma cesárea desnecessária e havia sofrido alguns tipos de
violência obstétrica.
Fiquei fissurada pelo
assunto e a partir de então não parei mais de estudar sobre. Prometi a mim
mesma que se um dia eu ficasse grávida novamente, tudo seria diferente. Quando
minha filha estava com 3 anos, meu marido eu já nos sentíamos preparados para
ter um segundo filho – e em fevereiro de 2015 descobri que estava grávida de
novo.
Mais informada e empoderada,
procurei uma doula e comecei a pesquisar equipes humanizadas para assistir o
meu parto. Só que, para minha surpresa, o primeiro ultrassom revelou que era
uma gestação gemelar. Foi um susto e a novidade nos pegou de surpresa! Não
estava nos nossos planos ter três filhos! E agora o meu tão sonhado parto
normal? E agora nossa vida? E agora tudo? Eu nunca tinha me interessado por
esse universo gemelar, nunca tinha lido nada a respeito e tive que começar do
zero.
Encontrei um grupo de apoio
a mulheres que desejam parto normal de gêmeos no Facebook, o “Parindo Gêmeos”,
e ali eu me encontrei! Só tinha mulheres que haviam parido seus gêmeos da forma
mais natural e respeitosa possível – um parto mais lindo que o
outro! Aquilo me deu uma paz. Eu sabia que era possível parir e amamentar
gêmeos. Agora só restava encontrar a equipe que toparia assistir um parto
normal gemelar com cesárea anterior. Na cidade onde eu moro, nenhum obstetra
topou. Todos diziam que deveria ser cesárea pelo simples fato de serem gêmeos e
mais ainda pela cesárea que eu já tinha feito há 3 anos.
E foi no grupo do Facebook
que eu descobri um obstetra humanizado que atende na cidade de São Carlos. Uma
das moderadoras do grupo havia parido lá e foi assistida por ele. Depois de
conseguir todas as informações que eu precisava, falei com meu marido e
decidimos conversar com esse médico. No dia da consulta, aproveitamos para
conhecer a maternidade e nos apaixonamos! Estava decidido: o parto ia ser lá!
(Arquivo Pessoal/Soraya Sandoval)
Agora era só seguir em
frente e esperar a hora. As duas bebês estavam em posição cefálica, eu me
sentia muito bem e estávamos muito saudáveis. Durante toda a gestação eu
pratiquei yoga, dança do ventre e cuidava muito da alimentação. Minha grande
preocupação era fazer essa gestação chegar a termo da forma mais saudável
possível. Além de toda a preparação física com as atividades que vinha
praticando, eu tinha toda informação de que precisava: sabia todas as
indicações reais e fictícias para a realização de uma cesárea; conhecia
praticamente todos os tipos de intervenções que poderiam ocorrer durante o
trabalho de parto; sabia como respirar e me concentrar durante as contrações.
Mas o mais importante: eu havia escolhido um obstetra humanizado e uma equipe
humanizada, que realizavam seus atendimentos baseados nas mais atuais
evidências científicas.
No dia 16 de setembro de
2015, eu entrei em trabalho de parto e fui para a maternidade com meu marido,
minha doula e minha irmã juntos. Viajamos 120 km, mas foi muito tranquilo. Dei
entrada na maternidade às 21h, com 4 cm de dilatação. No quarto em que me hospedei
havia cama de casal, banheira e todos os aparatos para parto humanizado:
banqueta, bola de pilates, barra.
Fui muito respeitada por
toda equipe do hospital e estava cercada de amor e carinho das pessoas que
escolhi para estarem comigo naquele momento. As horas passavam sem eu perceber.
Eu estava muito calma e procurei não criar expectativas. O
obstetra passava de vez em quando para ver como estavam as coisas,
sempre muito respeitoso e aguardando o tempo das minhas bebês. Tive a liberdade
de comer e beber o que eu quisesse; pude me movimentar e ficar na posição em
que eu me sentisse melhor; entrar e sair da banheira, do chuveiro… Enfim, pude
ficar onde eu preferisse. Tudo estava correndo super bem! Minha pressão
arterial estava ótima, os batimentos cardíacos das bebês estavam excelentes,
então não havia motivo para pressa. Só nos restava aguardar. E assim foi até às
20h do dia 18 de setembro.
Eu me acomodei na banheira
com meu marido de frente para mim e ali nossas bebês nasceram, num lindo e
tranquilo parto na água. Cercadas de amor e respeito. Primeiro a Mariana e, 11
minutos depois, a Heloísa. Vieram direto para os nossos braços, sob os olhares
atentos da doula, da minha irmã, do obstetra, das enfermeiras e da pediatra.
Todos em silêncio e num ambiente com pouquíssima luz. Nem parecia que tinha
mais alguém naquele quarto além do meu marido, eu e as bebês. Ali mesmo elas
foram examinadas pela pediatra e não saíram mais de perto de mim durante minha
permanência na maternidade.
E assim fui curada! Curada
de uma ferida que me causaram quase quatro anos antes desse parto, quando me
convenceram de que eu não era capaz de parir um bebê. Não pari um, mas dois de
uma vez. Eu só tenho a agradecer a todos que participaram desse parto, direta e
indiretamente, e a todos que apoiaram nossa decisão. Em especial meu marido,
que é meu companheiro de todas as horas, que se informou e se empoderou comigo
para passar por esse processo da forma linda que foi”.
Fonte: bebe.com.br
0 comentários:
Postar um comentário