A adolescência é uma
fase em que há um mix de sensações, sentimentos, emoções e infinitas
descobertas e, na maioria das vezes, é bastante conturbada pelas divergências
de ideias, definição da personalidade, identidade e desenvolvimento. Não se
pode definir ao certo, o início e término desta fase, mas a Organização Mundial
de Saúde (OMS), define a adolescência como um período que se inicia aos 10 anos
e vai até aos 19 anos completos. Para a OMS a adolescência é dividida em três
fases: Pré adolescência (dos 10 aos 14 anos); adolescência (dos 15 aos 19 anos
completos) e juventude (dos 15 aos 24 anos).
Essa fase também é
bastante marcada pelo que os pais e responsáveis chamam de "aborrecência",
desobediência e/ou rebeldia, inúmeras ‘’amizades perfeitas’’, conversas em
redes sociais, mudança no estilo de roupa, cabelo e pelo namoro. Nela também
está a puberdade, caracterizada pelas transformações físicas e biológicas no
corpo do indivíduo, finalizando na transformação sexual. Daqui em diante, as
intenções e desejos deste ser começam a tomar um caminho diferente; na cabeça
onde o pensamento era a programação de desenhos infantis, com que brinquedo
iria brincar, que desenhos colorir; hoje passa a ser a programação da novela/seriado,
quando vai ser a próxima sessão de cinema e que roupa irá vestir, ou seja, os
interesses mudam e há uma grande preocupação com seu status frente a outros da mesma idade. Além disso, observamos um
relativo abandono do seu "eu individual" para assumir um perfil do
grupo em que faz parte. É na verdade uma busca por aceitação/popularidade que geralmente
transforma radicalmente o perfil dos meninos e meninas.
Ao contrário do que
algumas pessoas pensam, adolescência e puberdade não são a mesma coisa. A
puberdade está apenas relacionada com as modificações físicas, ou seja, pelas
alterações hormonais, surgimento das características sexuais, etc. Nesta fase,
o corpo está voltado para a produção dos hormônios sexuais que são diferentes
em cada sexo. Os meninos produzem, além de outros, a testosterona (principal
hormônio do organismo masculino que influencia o comportamento, desempenho sexual
e também algumas características físicas). Já as meninas produzem o estrógeno
(estão relacionados à preparação do útero para a reprodução e a determinação dos
caracteres sexuais, como o crescimento das mamas, alargamento do quadril e
deposição de gordura em determinados locais do corpo).
Na puberdade o
crescimento acelera, os órgãos sexuais se definem e a fertilidade se inicia.
Trata-se de um processo difícil tanto para o adolescente, que vai experimentar
essas transformações, como para os que o rodeiam. Alterações de humor e às
crises existenciais vividas por eles carecem de paciência, atenção e muita orientação.
Apesar de tudo isso, essas transformações são necessárias para a espécie
humana, pois todo esse "alvoroço" tem o objetivo de permitir ao homem
iniciar o processo de reprodução.
A puberdade nas meninas
é caracterizada pelo desenvolvimento dos seios e da genitália; o aparecimento
de pêlos na genitália e axilas; definição das formas do corpo desencadeada por
meio do acúmulo de gorduras em algumas partes (quadris, coxas); surgimento de
acnes; e pelo aparecimento da menarca (a primeira menstruação).
Já nos meninos, a
puberdade se caracteriza a partir do engrossamento da voz; nascimento de pelos
em várias partes do corpo (peito, pernas, axilas, genitália); surgimento da
barba; desenvolvimento muscular; aparecimento de acne; desenvolvimento da
genitália; e pela primeira ejaculação, que pode ocorrer enquanto o garoto dorme
ou ainda, durante uma masturbação.
Tanto nas meninas quanto
nos meninos, a puberdade vem acompanhada de novas sensações e desejos sexuais
gerados pelo aumento da produção hormonal fazendo com que estes adolescentes
passem a sentir mais intensamente, excitação sexual. O desejo sexual é exagerado
na adolescência devido a intensa ação hormonal e curiosidade. O grande
controlador desses desejos é o cérebro. Lá existem regiões específicas chamadas
‘’centros sexuais cerebrais’’, onde ocorre à liberação de vários hormônios. Portanto,
o desejo sexual pode ser definido como um impulso produzido pela ativação de um
sistema presente na rede mais complexa que existe dentro de nós, o cérebro. A
descoberta do sexo na adolescência pode ser a causa do início precoce da vida
sexual. Sendo assim, se não houver orientação, esse início da vida sexual pode
acarretar em problemas que vão de uma gravidez inesperada até o contágio de
doenças sexualmente transmissíveis.
Inúmeros fatores podem
desencadear numa gravidez precoce, mas é importante salientar alguns, como por
exemplo, a base e instrução familiar. Vivemos numa sociedade em que a essência
e estrutura familiar têm se perdido seja por influência da mídia, por novas
ideologias, pós-modernidade e interações de culturas diferentes à nossa
(globalização). O que se pode observar diante deste fator é que algumas
crianças e adolescentes tem desenvolvido a ideia de que se pode tudo, ou seja,
existe uma grande dificuldade na imposição de limites.
Algumas famílias se
esforçam para debater a questão da sexualidade em casa e, em outros casos, o
tema é abordado com propriedade nas escolas através de palestras, campanhas,
estudos e discussões. Mas, mesmo assim, ainda é possível encontrar modelos de
famílias em que a sexualidade ainda é um tabu. Assim, meninos e meninas, acabam
debatendo sexualidade, na maioria dos casos, com os próprios amigos/namorados
ou até pelas redes sociais em que a banalização do sexo é uma realidade. Este é
considerado o primeiro passo, para uma gravidez fora de hora.
É por esses e outros motivos
que o mundo tem assistido uma crescente onda de mães muito jovens e, muitas
dessas, com Infecções Sexuais Transmissíveis (IST’s) - doenças contagiosas em
que a forma mais frequente de transmissão é através das relações sexuais. As
IST’s passam das pessoas infetadas para os seus parceiros/as durante o ato e são
provocadas por microrganismos - bactérias, vírus e parasitas. Soma-se isso a uma
gravidez fora de hora e teremos prejuízos irreversíveis no que diz respeito a
vida acadêmica e profissional.
O início da atividade
sexual precoce está muito relacionado com o contexto familiar, na maioria das
vezes, adolescentes que iniciam a vida sexual precocemente e engravidam, tem o
histórico parecido com o dos pais. A desconstrução da ideia conservadora e
recatada, a moda do ‘’ficar’’, o não querer estar sozinho, a não aderência dos
métodos contraceptivos - embora distribuídos gratuitamente nas Unidades Básicas
de Saúde Pública – talvez pela falta de informação ou por tentar esconder a
atividade sexual dos pais, tem aumentado a prática sexual precoce/desprotegida fortalecendo
as estatísticas de adolescentes grávidas.
A gravidez é uma das
fases mais difíceis e conturbadas que uma jovem pode enfrentar, pois representa
uma sobrecarga física e emocional, ocasionando na maioria das vezes, no
afastamento dos amigos e famílias.
No Brasil a gravidez na
adolescência tem se tornado uma problemática de saúde pública. Com a falta de
instrução sobre o uso dos métodos contraceptivos e despreparo físico/emocional
dessas mães, o índice de aborto também tem sido alarmantes, uma vez que ao
receber a notícia da gravidez, algumas jovens tentam, de todas as formas, interromper
o processo de gestação.
Quando a gravidez e a
adolescência andam juntas, podem ser sinônimos de inúmeros distúrbios, sejam
psicológicos ou físicos. Durante a gravidez, a mulher vai desenvolver dentro de
si um embrião, que posteriormente evoluirá para um feto e finalmente a forma em
que chamamos de recém-nascido. Normalmente, este processo acarretará em algumas
transformações tanto no nível psicológico quanto no fisiológico; naturalmente o
útero vai crescer e esticar, os seios irão ter um aumento progressivo e
prolongado seguido de dores (nas costas, região abdominal e seios). Tais transformações
necessitam de um preparo, que com certeza, adolescentes não possuem.
Uma gravidez para meninas
nas fases da pré-adolescência e adolescência requer atenção médica especial.
Visto que algumas dessas não têm capacidade para suportar o desenvolvimento
fetal pelo baixo peso, não desenvolvimento total da estrutura que comporta este
novo ser (o útero), outras ainda, têm doenças que podem interferir na formação
e desenvolvimento da criança. Uma adolescente que por não se prevenir no ato
sexual adquire alguma IST (Infecção Sexual Transmissível), dependendo do tipo e
desenvolvimento da infecção trará danos irreparáveis tanta para ela quanto para
o feto. Outro fator de risco para a gravidez precoce é a falta de preparo
fisiológico, sendo assim, se faz necessário o uso de medicamentos para suprir
as necessidades do embrião em se desenvolver que no momento, a mãe não tem.
Ainda falando sobre
medicamentos, em determinadas semanas da gestação, a mães precisam fazer uso de
alguns para garantir o desenvolvimento correto do embrião. Durante a gravidez,
mãe e feto se unem numa unidade funcional inseparável. O bem-estar materno é pré-requisito
para o bom funcionamento e desenvolvimento de ambos. Consequentemente, é
importante, ao tratar a mãe, considerar a máxima proteção ao feto. Além disso,
é muito importante que a mãe faça o pré-natal de forma correta e regular para se
estabelecer um vínculo de segurança com seu médico, esclarecer qualquer tipo de
dúvidas, realizar os exames necessários que visam prevenir doenças e riscos
para ambos e conhecer com propriedade o que está acontecendo com seu corpo e
com seu bebê.
Entende-se que é importante
passar por todas as fases naturais que a vida oferece, como a infância, a
adolescência, a fase jovem, adulta e a velhice, períodos onde se desenvolvem
estruturas que se auxiliam uma após a outra. Então, como se pode explicar
jovens com tão pouca idade se tornando “mães” existindo pouco preparo ou estrutura ? O contexto da
problemática de fato está no que foi tratado anteriormente (base e estrutura
familiar destorcidas, falta de instrução, abertura para a prática sexual
precoce, desconstrução de valores). É importante chamar atenção para várias
adolescentes que engravidaram, e alegaram que mesmo tendo conhecimento sobre o
tema, não sabiam explicar o fato de não terem se prevenido, deixando o momento
da relação aos cuidados da sorte.
Mesmo havendo uma
resistência para a conscientização dos jovens e adolescentes quanto às questões
emocionais, sociais e financeiras que circundam uma gravidez precoce, talvez
seja necessário aumentar a frequência de informações sobre a temática dentro das
escolas e famílias. Este assunto, deve ser incorporado em nossa cultura, que
apesar de “moderna”, ainda é cheia de tabus e preconceitos.
A busca por ajuda, por
mais constrangedor que possa parecer, também é fundamental na compreensão dos
processos de transformação que estão a acontecer com o corpo e mente. Expor
dúvidas e desabafar também são importantes, ajudando a aliviar a tensão que
esta fase proporciona. A negação também não mudará o quadro e por isso, a jovem
mãe terá que encarar a realidade com paciência, cuidados redobrados e
informação. Portanto, para evitar situações conturbadas o melhor mesmo é o
caminho da prevenção.
Referências
http://www.apf.pt/
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/l8069.htm
http://www.who.int/eportuguese/publications/pt/
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Elienay Keren é estudante do sétimo período de enfermagem (noite).