Segundo Dr. Sebastião Moreira “Qualquer um que não seja
esquizofrênico pode realizar um parto” O diretor-geral da Maternidade Nascer Cidadão de Goiânia
defendeu a retirada da obrigatoriedade de pediatras das salas de parto. Em
entrevista ao Jornal
Opção Online, o obstetra Sebastião Moreira afirmou que qualquer
pessoas que não seja esquizofrênica pode, sim, realizar um parto, “basta ser
capacitada”.
Para o médico
da Rede Municipal de Saúde, quando o parto é de baixo risco — aquele que, em
tese, não apresenta indícios de complicações para a mãe e o bebê –, este pode
ser assistido por um enfermeiro obstetra, especializado em neonatologia, e não
obrigatoriamente por um médico pediatra — como determina a Portaria nº 31, de
15 de fevereiro de 1993. “Estamos formando dez residentes aqui na Nascer
Cidadão e outros quatro no Hospital Materno Infantil. Quando eu tiver
enfermeiros capacitados, vou pedir a dispensa do pediatra”, garante ele.
A polêmica
sobre a presença do pediatra durante o parto surgiu após uma consulta pública
do Ministério da Saúde, aberta no final de abril e com prazo final para a
próxima semana, que discute tal obrigatoriedade, também em partos cesáreos. A
intenção do MS é possibilitar a substituição do especialista por outro médico
ou mesmo enfermeiro.
Mesmo sendo
duramente criticada pela classe médica, inclusive pelo Conselho Federal de
Medicina, a medida é considerada um avanço pelo diretor da Nascer Cidadão. “Nos
Países desenvolvidos, como a Holanda, isso é normal. Mas, aqui, nós temos
cultura de terceiro mundo e não queremos avançar por causa de corporativismo”,
critica ele.
Sebastião
Moreira conta que já foi denunciado por colegas de trabalho por dispensar
pediatras e fazer o parto sozinho: “O problema é que os médicos acham que são
os donos do parto, e não são. O parto é da mulher e é ela quem deve decidir
como quer ter seu filho”.
Ao elencar os
motivos do porquê de tamanha aversão da classe médica aos partos realizados por
enfermeiros, ele sugere que o “corporativismo”, “a questão comercial” e “o
poder do médico” são os principais.
“Na minha
experiência, um parto de baixo risco assistido por uma enfermeira capacitada é
perfeitamente normal. Claro que teríamos uma equipe de plantão para caso algo
aconteça, mas estes pediatras, em vez de estarem na sala de parto, poderiam
estar em consultórios atendendo e suprindo a falta desses profissionais, que é
uma realidade”, arrematou o diretor.
Retrocesso
Para o Dr. Mauricio Machado
presidente da Sociedade Goiana de Ginecologia e Obstetrícia, Maurício Machado
discorda do posicionamento do colega de profissão. Para ele, a retirada do
pediatra das salas de parto é um “retrocesso enorme”. “Retirar o profissional
que é mais capacitado para dar assistência neonatal no que chamamos de minuto
de ouro [primeiro minuto de vida do recém-nascido] pode ter consequências
graves para o resto da vida”, lamenta ele.
De fato, dados
mostram que um em cada dez recém-nascidos — em partos de baixo risco — precisa
de ajuda rápida e eficaz nos primeiros 60 segundos de vida, por um profissional
qualificado. A Sociedade Brasileira de Pediatria estima que, a cada ano no
Brasil, cerca de 300 mil recém-nascidos necessitam ser auxiliados para que o
pulmão se encha de ar e para que o coração e toda a circulação sanguínea se
adaptem a funcionar normalmente sem a placenta.
Maurício critica
a intenção do Governo Federal de retirar o pediatra da sala de parto e também a
defesa dos partos domiciliares, pois o Brasil não possui estrutura adequada
para tanto. “Mesmo em Países desenvolvidos, que têm além de recurso,
experiência, a morbidade e a mortalidade em partos domiciliares são aumentadas
em duas vezes. Imagina no nosso país que não tem estrutura nem para partos
hospitalares”, justifica.
O presidente
afirma que o grande problema em se retirar o neonatologista advém do fato de
que, quando há uma emergência, a demora para se acionar o apoio pode ser
crucial para o recém-nascido. “Quando o médico chegar, a situação já estará
grave”, alerta e completa: “Essa modalidade vai pegar na rede pública, porque
no serviço privado, ninguém vai querer. É uma forma de baratear o parto, de
forma irresponsável… Se retirar o pediatra, será o passo final para partos sem
equipe médica”.
Presidente
eleito do Conselho Regional de Medicina de Goiás (Cremego), o também obstetra
Aldair Novato lamenta a discussão e considera “preocupante” a retirada do
pediatra. De acordo com ele, há uma disputa entre as equipes médicas e de
enfermagem. “Estão querendo transferir para pessoas não-médicas um ato que é
médico. Enfermeiros estão fazendo residência por dois anos e se achando
competentes para fazer partos, inclusive domiciliar, o que é uma
irresponsabilidade”, alerta ele.
Aldair Novato
reconhece que em Países desenvolvidos é comum a retirada dos médicos pediatras,
mas só porque “existem pessoas extremamente capacitadas para fazer este
acompanhamento de partos de baixa complexidade”. No entanto, há sempre a
supervisão médica, para a eventualidade de um acontecimento agudo.
Já no Brasil,
são poucos os lugares que possuem equipes com tamanho preparo: “Pode ser que no
Rio de Janeiro, em São Paulo e Belo Horizonte existam essas equipes, mas em
Goiânia, com certeza, não”. “A atuação entre a equipe médica e a de enfermagem
deve ser conjunta, mas não é isso que tem acontecido”, arremata o presidente.
Posicionamento
A Secretaria
Municipal de Saúde encaminhou uma nota-resposta ao Jornal Opção
Online informando que o posicionamento do diretor-geral da Nascer
Cidadão não reflete à opinião da SMS. Veja:
“Com relação à
matéria do Jornal Opção Online, com título ‘Qualquer um que não
seja esquizofrênico pode realizar um parto’, afirma diretor da Nascer Cidadão,
a Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia (SMS) esclarece que a
afirmação não é a opinião da Secretaria e sim opinião pessoal do diretor.
A SMS segue os protocolos técnicos do Ministério da Saúde e da Sociedade
Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia”.
Fonte: Jornal Opção
Data:21/05/2015
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