Alana Gandra - Repórter da
Agência Brasil
Embora a qualificação dos
exames laboratoriais feitos no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) tenha
recebido avaliação positiva por parte das usuárias do serviço, com 90% de
aprovação, o prazo para acesso ao diagnóstico de câncer de mama ainda é tardio.
É o que revela pesquisa inédita feita pelo Instituto Datafolha para a Fundação
Laço Rosa, divulgada hoje (31), no Rio de Janeiro, durante o Fórum de Políticas
para o Câncer de Mama.
A pesquisa buscou investigar
os problemas registrados no estado do Rio de Janeiro para o tratamento do
câncer de mama. “Ainda tem grandes barreiras”, disse a presidente voluntária da
Fundação Laço Rosa, Marcelle Medeiros. O Instituto Datafolha entrevistou 240
mulheres, pacientes em tratamento de câncer de mama ou em fase diagnóstica,
atendidas pelo SUS no estado do Rio de Janeiro, entre os dias 2 e 10 deste mês,
e verificou que o atendimento está concentrado na região metropolitana do Rio,
em especial na capital.
A sondagem mostra que o
tempo médio até o diagnóstico das mulheres entrevistadas oscila entre oito e
nove meses e que uma em cada dez mulheres nunca fez nenhum exame preventivo. A
presidente da Fundação Laço Rosa avaliou que o que é diagnosticado no estágio
um, depois de nove meses, pode agravar a saúde da mulher com câncer de mama,
pois “O tempo, de fato, corre contra”. Por isso, Marcelle disse ser
fundamental que se faça o diagnóstico no prazo mínimo de 60 dias, como
estabelece a lei, “que também já é um tempo demorado demais”.
De acordo com a pesquisa,
19% das pacientes do SUS necessitam recorrer a plano de saúde ou exames
particulares para complementar exames cobertos pelo SUS; 77% passam pelo
atendimento de até quatro médicos, em vez de um único profissional que possa
acompanhá-las do início até o final do tratamento. Outros resultados revelam
que um terço das entrevistadas têm parentes de primeiro grau com câncer de mama
e que, para elas, receber o diagnóstico e perder o cabelo são os piores
momentos da doença.
Marcelle destacou ainda que
as mulheres consultadas gostariam de participar de eventos referentes à doença.
A mobilização registrada no fórum prova isso, afirmou. Ela defendeu também que
as campanhas precisam estar alinhadas ao grau de escolaridade das pacientes,
que é baixo, de modo a adequá-las ao público. Outro dado importante, segundo
ela, é que 83% das mulheres nunca utilizaram o trabalho de organizações não
governamentais (ONGs) que atuam nessa área: “Isso demonstra que não existe uma
relação entre o poder público e as organizações da sociedade civil que poderiam,
muitas vezes, estar ajudando o poder público nesse trabalho”. Falta, sustentou,
uma política pública que inclua as organizações sociais nesse debate.
Marcelle disse que há um
longo caminho a ser percorrido e temas para serem debatidos, visando a construção
de uma solução conjunta entre especialistas, autoridades, associações médicas e
entidades ligadas ao tratamento do câncer de mama no Brasil.
Termo de compromisso
Durante o fórum, começou a
ser construído um termo de compromisso para melhoria do cenário atual. “O termo
é colaborativo”, afirmou Marcelle. Ele será colocado para consulta pública, de
modo a ser criado em colaboração com a sociedade civil, antes de ser levado a
todas as esferas do poder público.
O fórum terá
continuidade pelas redes sociais, com o objetivo de construir as
melhorias propostas. Segundo o Instituto Nacional do Câncer José Alencar Gomes
da Silva (Inca), do Ministério da Saúde, o número de casos novos de câncer de
mama deve alcançar quase 58 mil no país, em 2016.
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